Ayahuasca em Peruíbe: jornada de autoconhecimento

mulher despreocupada relaxa na areia

Se você já cogitou trocar um rolê de final de semana por uma imersão profunda dentro de si mesmo, então senta aí com um chazinho (sem trocadilho… ou com!) que o papo é sério, mas cheio de alma. Estou falando de uma experiência que mistura natureza bruta, tradições ancestrais e uma dose generosa de coragem interna: tomar ayahuasca em Peruíbe, esse cantinho místico do litoral sul de São Paulo.

Como um mochileiro de alma inquieta, que já viu nasceres do sol em Machu Picchu, meditou com monges na Tailândia e quase congelou numa cabana na Islândia, te digo com firmeza: a ayahuasca é um dos mergulhos mais intensos que você pode fazer — não no mar, mas em você mesmo.

O que é a ayahuasca, afinal?

Antes de sair achando que é só mais uma “moda espiritual”, vale entender o que estamos tomando aqui. A ayahuasca é uma bebida sagrada, usada há séculos por povos indígenas da Amazônia. Ela é feita da combinação de duas plantas: o cipó Banisteriopsis caapi e as folhas da chacrona (Psychotria viridis). Juntas, elas liberam a dimetiltriptamina (DMT), uma substância que provoca estados alterados de consciência.

Mas calma: isso aqui não é pra “viajar” como quem toma um coquetel numa balada de Berlim. A ayahuasca é usada em contextos ritualísticos, geralmente guiados por mestres ou facilitadores com experiência. A ideia não é escapar da realidade, mas encará-la de frente, às vezes com um espelho emocional brutal.

Por que Peruíbe virou destino ayahuasqueiro?

Peruíbe é conhecida por suas praias lindas, a vibe mais tranquila (comparada com as primas badaladas como Maresias ou Ubatuba), e principalmente por estar colada em áreas de Mata Atlântica preservada. Mas o que muita gente não sabe é que a cidade também é reduto de espiritualidade — e isso não é de hoje.

Com uma forte presença de comunidades indígenas, centros xamânicos e espaços de cura, Peruíbe se tornou um ponto de encontro para quem busca mais do que um bronzeado: busca sentido, conexão, limpeza energética e aquele reboot mental que a gente nem sabia que precisava.

Como funciona um ritual de ayahuasca?

A primeira vez que participei de uma cerimônia de ayahuasca em Peruíbe foi numa chácara no meio do mato, com direito a fogueira, mantras ao vivo e uma energia coletiva tão densa que dava pra sentir no ar. O facilitador explicou tudo direitinho, desde os efeitos físicos (náusea, vômito, tremores) até os efeitos mentais e emocionais (memórias esquecidas, visões simbólicas, sensações de unidade com o universo).

Você não toma a bebida e vai “curtir” — você entrega o controle. E aí começa a jornada.

O tempo parece derreter. Os sentidos se embaralham. Emoções antigas voltam com força. É como se você mergulhasse numa biblioteca interna, onde cada livro é uma parte de você que você esqueceu de ler. Alguns são difíceis. Outros, transformadores. É comum chorar, rir, ou simplesmente deitar e deixar o chá “te mostrar o caminho”.

Não é pra todo mundo — e tá tudo bem

Antes de tudo, é essencial entender: ayahuasca não é terapia substituta, nem remédio mágico. E, apesar de não ser considerada uma droga ilícita no Brasil (graças ao reconhecimento de seu uso religioso), ela mexe profundamente com o psicológico. Se você tem histórico de transtornos mentais, especialmente esquizofrenia ou bipolaridade, o ideal é conversar com um médico ou terapeuta antes de cogitar essa experiência.

Aliás, mesmo pra quem tá em paz com a mente, a ayahuasca pode virar a mesa emocional. É tipo aquele amigo sincero que te joga a real sem filtro. Então, se você não estiver disposto a ouvir a verdade interna (e externa), talvez não seja o momento.

A importância da integração

Um dos pontos mais importantes — e pouco falados — é o pós-cerimônia, também chamado de integração. A experiência com ayahuasca não termina quando a fogueira apaga. Muitas das revelações, insights e mudanças começam a se desenrolar dias, semanas ou até meses depois.

Eu mesmo já saí de uma cerimônia com a cabeça em parafuso, só pra entender o que tinha acontecido semanas depois, enquanto caminhava sozinho em uma trilha. Meditação, escrita, terapia e até massagens ajudam muito nesse processo de assimilação e ancoragem do que foi vivido.

Massageando o espírito (e o corpo)

Falando nisso, uma dica pessoal: depois de uma jornada com ayahuasca, uma boa sessão de massagem pode ser como um bálsamo pra realinhar corpo e mente. Afinal, você passou horas navegando no seu mundo interior — seu corpo também precisa de atenção. Técnicas como a massagem ayurvédica, que respeita os canais energéticos, ou a shiatsu, que trabalha pontos de tensão emocional, podem potencializar ainda mais o processo de cura.

Inclusive, em Peruíbe e região, não é difícil encontrar espaços que oferecem esses serviços em sintonia com o lado espiritual. Alguns até integram massagens e terapias complementares ao dia seguinte da cerimônia, como parte do pacote de cura holística. Fica a dica pro viajante sensível.

Vale a pena tomar ayahuasca?

Se você me perguntasse isso há alguns anos, eu provavelmente daria uma resposta diplomática. Hoje, depois de ter vivido várias cerimônias (em diferentes lugares, com diferentes abordagens), posso dizer com certeza: sim, vale a pena — mas só se for com responsabilidade e intenção clara.

Tomar ayahuasca não é sobre ver luzinhas coloridas ou se sentir especial. É sobre se abrir pra um processo profundo de cura, aceitar o desconforto, trabalhar traumas, revisitar sua história e, quem sabe, sair de lá um pouquinho mais leve e conectado.

Se for só pela curiosidade, talvez um documentário ou livro seja um começo melhor. Mas se a busca for sincera, se o chamado estiver forte, e se você encontrar um grupo sério, com preparo e respeito pela tradição… vai. Peruíbe pode ser o cenário ideal para esse encontro com seu eu mais íntimo.

Um mar de descobertas, dentro e fora

Peruíbe é muito mais do que uma cidade pra passar o verão. Ela é um ponto de encontro entre o oceano, a mata e o invisível. Ao tomar ayahuasca ali, você se conecta com essa energia primordial — das águas, das folhas, dos ancestrais — e talvez entenda, de uma forma que palavras não explicam, o que significa estar vivo de verdade.

Seja você um mochileiro das trilhas ou das emoções, esse tipo de experiência pode virar um divisor de águas. E quem sabe, depois de olhar pra dentro com tanta intensidade, você também comece a ver o mundo lá fora com outros olhos.

Namastê, e até a próxima jornada.